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Um adeus aos vinte e poucos anos

quarta-feira, fevereiro 10, 2016 Unknown 4 Comentários


Ao completar 29 anos, resolvi fazer uma lista do que deveria concluir antes de entrar na casa dos trinta. Pensei em algumas coisas, mas o primeiro item da lista era NÃO querer atingir os próprios trinta. Cada mês que se passava a contagem regressiva em minha cabeça me alertava com um “agora só falta tanto tempo”. Estava surtando ao querer resolver uma vida inteira de problemas em apenas alguns dias. Como nunca fui bom com listas, fracassei em tudo brilhantemente.
Até chegar nos tenebrosos trinta a gente passa por muitas coisas. São tantas as crises que é difícil numerá-las, mas admito que principalmente os 3 últimos anos foram os mais difíceis pra mim. Aos 27 bate aquele desespero do “ainda não tenho nada” e “o que eu fiz da minha vida até agora?”.
Contudo, acho que olhar pra trás, analisando as conquistas e a falta delas, não é pior que o medo do que vem a seguir. É aquele receio de que alcançar o que tanto estimamos ainda esteja longe de chegar. Isso se chegar. Coisas essas que são na maioria o que a sociedade nos obriga a ter como carro, casa, vida estável, sucesso no trabalho, casamento e filhos. Nos cobramos, mesmo sem perceber, a fazer tudo isso fluir. E, às vezes, nem refletimos se é isso mesmo o que queremos.
Percebi ao longo do caminho que deixei a vida no automático e fui seguindo sem pensar muito em algumas possibilidades. Deixei que o meu “eu” de trinta anos resolvesse por mim e, ele, finalmente, chegou. Arrependido? De forma alguma. Planejar o que não está sob nosso total comando é a forma perfeita para nos frustar. Na verdade, nada está sob nosso total comando, nem a busca pela felicidade, caso contrário nunca ficaríamos triste. O jeito é nos arriscar em prol de nossos objetivos e acreditar que, mesmo nos tropeços, estamos construindo a estrada que escolhemos seguir.
O tempo foi correndo, os trinta se aproximando e eu comecei a compreender melhor nosso papel nisso tudo. Não sei se pela maturidade ou por ter que aceitar o fato que seria inegável, mas completar trinta anos é algo grandioso. Talvez eu devesse ficar triste pelo tempo estar passando rápido demais, mas prefiro é ficar agradecido pelo tempo que pude aproveitar. E muito mais do que isso, ficar feliz pelas novas experiências que ainda irei desfrutar e viver. Quando completei 25, me sentia com uma força surpreendente, com asas indestrutíveis e capaz de fazer qualquer coisa. Aos trinta, não apenas sinto todas essas coisas como as estou colocando em prática. Acredito que essa é a fase das realizações, época de colher os frutos das quais sonhamos e plantamos nos vinte e poucos anos. Não de tudo, mas das coisas que priorizamos.
Provavelmente, problemas como falta de dinheiro e desastres amorosos ainda continuem, afinal, completar mais um ano de vida não muda plenamente quem nós somos. Mas pode mudar nossa forma de ver o que realmente importa. Valorizar mais as coisas simples, nossa família, os poucos amigos de verdade que ficaram. Com certeza, o que nos acompanhará por essa nova década de dúvidas, é o que queremos que vá com a gente. Nos conhecemos melhor do que nunca e sabemos onde queremos chegar.
Foram trinta anos de mais perdas do que ganhos. Os rumos que tomei foram bem diferentes do que imaginei. E não poderia ter sido melhor. Sei que muito do que fiz e do que conheci seria diferente se não tivesse passado pelo que passei. Poderia ser uma pessoa na qual não me orgulhasse, diferente de hoje. Os resultados que obtive condizem com o tipo de pessoa que sou e isso explica muita coisa. Algumas das metas não cumpridas que tracei era pra alguém que eu acreditava ser, mas só descobri depois que não era. Portanto, mesmo não tendo alcançado várias das coisas que gostaria, eu só consigo enxergar êxito no caminho que percorri e sentir esperança pelo que ainda pretendo buscar.
Ao olhar para o horizonte sem foco em algo específico, levanto o braço direito e, num chacoalhar da mão, me despeço dos meus trinta anos de existência. Digo adeus a uma vida inteira, a anos de juventude e a momentos que jamais voltarão. Ainda no balançar da despedida, pronuncio palavras que mais parecem deslizar com o sopro: isso foi só o começo.
Do menino que admite o medo de fazer um texto sobre os seus quarenta anos.
Eric Ventura

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4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Nossa, que bom eu ter lido seu texto. Estou há alguns meses de completar meus trinta anos! Nunca me sentir melhor. Os vinte e pouco foram bons, mas tenho que admitir que os trinta e poucos te traz muitas coisas boas como a maturidade e consigo um novo olhar sobre seu futuro, sobre quem você é. Resumindo, estar na casa dos trinta é juntar a força da juventude com a cadência da maturidade.

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  3. Eu precisava muito, muito, muito ler o seu texto! Obrigada!
    Mariana

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