inspiração,
Um adeus aos vinte e poucos anos
Ao
completar 29 anos, resolvi fazer uma lista do que deveria concluir
antes de entrar na casa dos trinta. Pensei em algumas coisas, mas o
primeiro item da lista era NÃO querer atingir os próprios trinta. Cada mês
que se passava a contagem regressiva em minha cabeça me alertava com
um “agora só falta tanto tempo”. Estava surtando ao querer
resolver uma vida inteira de problemas em apenas alguns dias. Como
nunca fui bom com listas, fracassei em tudo brilhantemente.
Até
chegar nos tenebrosos trinta
a gente passa por muitas coisas. São tantas as crises que é difÃcil
numerá-las, mas admito que principalmente os 3 últimos anos foram
os mais difÃceis pra mim. Aos 27 bate aquele desespero do “ainda
não tenho nada” e “o que eu fiz da minha vida até agora?”.
Contudo,
acho que olhar pra trás, analisando as conquistas e a falta delas,
não é pior que o medo do que vem a seguir. É aquele receio de que
alcançar o que tanto estimamos ainda esteja longe de chegar. Isso se
chegar. Coisas essas que são na maioria o que a sociedade nos obriga
a ter como carro, casa, vida estável, sucesso no trabalho, casamento
e filhos. Nos cobramos, mesmo sem perceber, a fazer tudo isso fluir.
E, às vezes, nem refletimos se é isso mesmo o que queremos.
Percebi
ao longo do caminho que deixei a vida no automático e fui seguindo
sem pensar muito em algumas possibilidades. Deixei que o meu “eu”
de trinta anos resolvesse por mim e, ele, finalmente, chegou.
Arrependido? De forma alguma. Planejar o que não está sob nosso
total comando é a forma perfeita para nos frustar. Na verdade, nada
está sob nosso total comando, nem a busca pela felicidade, caso
contrário nunca ficarÃamos triste. O jeito é nos
arriscar em
prol de nossos objetivos
e acreditar que, mesmo nos tropeços, estamos construindo a estrada
que escolhemos seguir.
O
tempo foi correndo, os trinta
se aproximando e eu comecei a compreender melhor nosso papel nisso
tudo. Não sei se pela maturidade ou por ter que aceitar o fato que
seria inegável, mas completar trinta
anos
é
algo grandioso. Talvez eu devesse ficar triste pelo tempo estar
passando rápido demais, mas prefiro é ficar agradecido
pelo tempo que pude aproveitar. E muito mais do que isso, ficar feliz
pelas novas experiências que ainda irei desfrutar e viver. Quando
completei 25, me sentia com uma força surpreendente, com asas
indestrutÃveis e capaz de fazer qualquer coisa. Aos trinta,
não apenas sinto todas essas coisas como as estou colocando
em prática.
Acredito que essa
é
a
fase
das realizações, época
de colher os frutos das quais
sonhamos e
plantamos
nos vinte e poucos anos.
Não de tudo, mas das coisas que priorizamos.
Provavelmente,
problemas como falta de dinheiro e desastres amorosos ainda
continuem, afinal, completar mais um ano de vida não muda plenamente quem nós
somos. Mas pode mudar nossa forma de ver o que realmente importa.
Valorizar mais as coisas simples, nossa famÃlia, os poucos amigos de
verdade que ficaram. Com certeza, o que nos acompanhará por essa
nova década de dúvidas, é o que queremos que vá com a gente. Nos
conhecemos melhor do que nunca e sabemos onde queremos chegar.
Foram
trinta anos de mais perdas do que ganhos. Os rumos que tomei foram
bem diferentes do que imaginei. E não poderia ter sido melhor. Sei
que muito do que fiz e do que conheci seria diferente se não tivesse
passado pelo que passei. Poderia ser uma pessoa na qual não me
orgulhasse, diferente de hoje. Os resultados que obtive condizem com
o tipo de pessoa que sou e isso explica muita coisa. Algumas das
metas não cumpridas que tracei era pra alguém que eu acreditava
ser, mas só descobri depois que não era. Portanto, mesmo não
tendo alcançado várias das coisas que gostaria, eu só consigo
enxergar êxito no caminho que percorri e sentir esperança pelo que
ainda pretendo buscar.
Ao
olhar para o horizonte sem foco em algo especÃfico, levanto o braço
direito e, num chacoalhar da mão, me despeço dos meus trinta
anos de existência. Digo adeus a uma vida inteira, a anos de
juventude e a momentos que jamais voltarão. Ainda no balançar da
despedida,
pronuncio
palavras que mais parecem deslizar
com o
sopro: isso foi só o começo.
Do
menino que admite o medo de fazer um texto sobre os seus quarenta
anos.
– Eric
Ventura
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNossa, que bom eu ter lido seu texto. Estou há alguns meses de completar meus trinta anos! Nunca me sentir melhor. Os vinte e pouco foram bons, mas tenho que admitir que os trinta e poucos te traz muitas coisas boas como a maturidade e consigo um novo olhar sobre seu futuro, sobre quem você é. Resumindo, estar na casa dos trinta é juntar a força da juventude com a cadência da maturidade.
ResponderExcluirEu precisava muito, muito, muito ler o seu texto! Obrigada!
ResponderExcluirMariana
Perfeito!
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