crônica

Escritas para alguém

segunda-feira, dezembro 02, 2013 Unknown 0 Comentários


Tinha se sentado numa escrivaninha sob a luz forte de uma luminária. Era de noite e estava numa cidadezinha de algum país por aí. Também sob a luz da lua, sua imagem se contornava numa silhueta pela janela, parecendo estar sozinho naquele enorme casaréu. E foi lá que ele escreveu, pra ela. Não sabia ao certo quem era, mesmo assim, escreveu.
Em suas escritas continham muitas palavras. Nem todas eram palavras muito bonitas, mas foi porque ele não teve dias tão bons assim. Mas ao ler, ela entenderia. Ela não deve ter tido dias tão fáceis também. E ela precisava daquelas palavras. E ao ler, o abraçaria.
Eles poderiam segurar suas mãos quando quisessem. Poderiam dançar uma valsa juntos. Mas primeiro, ela precisava ler as cartas. Ele ia enviar, mas ainda não a conhecia. Muito menos seu endereço. E ele não tinha todo o tempo do mundo. Os dias estavam se passando. Ele precisava enviar logo.
Então, passaram-se dias, semanas. Uma hora já não se podia mais contar. Suas escritas foram se desbotando.
Tempos e tempos depois, ela finalmente encontrou aquelas cartas. Ela podia ler com dificuldade, mas entendeu cada palavra. E assim foi ao seu encontro.
Quando o encontrou, não podia acreditar: ele já tinha uma “ela”. A “outra ela” já tinha lido as escritas. Mas para sua surpresa, a mesma não tinha as entendido. Com esse fato, ele tinha feito uma nova escrita. Com “a outra ela”, ele poderia segurar suas mãos quando quisesse, mas não tinha dançado a valsa. E nunca dançariam. Porém, estavam juntos.
Ela, arrasada, pensou em alterar suas escritas desbotadas. Mas não o fez. Preferiu esperar um novo “ele” com aquelas mesmas palavras. E diariamente sob as luzes fortes do sol e da lua, sua imagem contornada numa silhueta pela janela, esperou. Esperou. E esperou.
– Eric Ventura

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