relatos

Viva La Vida

terça-feira, maio 12, 2015 Unknown 1 Comentários


Recentemente, fuçando algumas coisas antigas, encontrei um texto que escrevi há 5 anos. O texto foi um dos primeiros escritos para o blog, a versão antiga deste. É uma crônica real que aconteceu comigo quando saí da cidade interiorana em que morava para chegar até a capital paulista. Estava seguindo na intenção de ir ao show do Coldplay, a qual era muito fã.
Naquela época já me considerava um espírito aventureiro e estava prestes a começar a entrar em estradas mais desafiadoras na vida. Aquele dia fatídico me ensinou muita coisa e, lendo o texto novamente, volta a me ensinar.
Reproduzo agora uma versão resumida do texto, pois além de falar sobre o dia, o original é uma resenha do show. E o mesmo é bem longo. Assim, a seguir, o texto “Viva La Vida”:
Aprendi nos últimos tempos que, às vezes, é extremamente importante que arranjemos algum tempo para nós mesmos. Fazer coisas que realmente queremos e não o que necessitamos fazer. Recarregar as baterias, reavaliar decisões, enfim, refletir sobre tudo o que andamos fazendo ou o que deveríamos estar fazendo. E não importa o quanto isso possa custar, merecemos e devemos isso a nós mesmos, fazer tudo o que torne o momento inesquecível. Sendo assim, nesse dia, não tirei um gatinho de cima da árvore, muito menos salvei o mundo, eu só deixei a viagem me levar.
Nasce a manhã de terça-feira, 2 de março de 2010. Depois de algumas confusões sobre a locomoção e da mochila abastecida com comida, está tudo pronto para a viagem. Passagem comprada e o ônibus faz seu destino à capital paulista. Durante o percurso ouço alguns álbuns da banda, relembrando assim as letras das músicas. Um pouco de trânsito e chuva no caminho, o ônibus chega à estação rodoviária.
Parando um pouco pra pensar, paira sobre a cabeça: “e agora, como chego ao local do show?”. Procurando, encontro um posto de informações. Perguntando para a mulher em como chegar ao estádio, recebo uma resposta um pouco diferente do que imaginava receber: “me desculpe, moço, aqui é o posto de informações da TIM e não tenho como te ajudar, até porque nem daqui eu sou”. Um pouco constrangido ao não ter notado a enorme placa de identificação da operadora, fui em busca de outro posto. Encontrando, faço a mesma pergunta ao atendente e fico abismado pelo tamanho da minha ignorância, porque sou informado que, para chegar ao estádio do Morumbi, é só pegar o trem e ir até a estação Morumbi. Super simples, como não pensei nisso antes? E, assim, prossigo ao transporte.
Enquanto fazia o trajeto pelo trem, tudo parecia normal, mas a cada estação entrava mais e mais pessoas no vagão. E a estação de destino ainda estava longe de chegar. Passaram-se alguns minutos e, quando você achava que não cabia mais ninguém, as pessoas desafiavam as leis da física e mostravam que Newton estava errado, pois dois corpos podem sim ocupar o mesmo espaço. Para ficar ainda pior, onde já estava difícil de respirar, uma mulher não se contendo em incomodar as pessoas ao seu redor, abre um salgadinho de queijo com cheiro de chulé, o qual empesteia todo o vagão. Sem contar o cheiro de sovaco que já estava.
Quando estava finalmente chegando a hora de descer e já não parecia ficar pior, eu ainda precisava chegar até a porta do trem, sendo que mal conseguia me mexer e estava bem ao meio do corredor, longe da saída. Entre apertos e suores, e com a ajuda dos empurrões de alguns bons corações ao meu caso, a porta fica próxima. A briga agora era conseguir atravessar a passagem para fora, pois era empurrado para dentro por quem queria entrar, pessoas essas que insistiam na história de sempre caber mais um. Com muita força de vontade e querendo fugir da claustrofobia, consegui sair e ver o sol novamente.
Pronto. Tudo parecia estar mais fácil, era só perguntar para o fiscal onde saía da estação e qual rua tomar para ir até o estádio. Infelizmente não era só isso, ao conversar com o fiscal, ele me informa que para ir ao estádio não era para descer na estação Morumbi e, sim, ter descido várias estações antes. Teria que pegar novamente o trem e voltar até a outra estação. Nesse instante descobri que não era tão ignorante quanto pensei ao ter pedido a informação no posto. Sorrindo ironicamente e sem outras opções, o jeito era confiar na informação sem pensar que ela poderia estar errada. Novamente pegando o trem e pensando que era meu dia de sorte por não estar tão cheio quanto o anterior, desço na outra estação e saio para a rua.
Continuando o caminho, refletia sobre como existem diversos caminhos para se chegar a um lugar. A prova disso era cada pessoa me dizer algo completamente diferente do outro. Assim, me convencem a pegar um ônibus até o estádio. Perguntando no ponto qual dos milhares de ônibus que passavam ali eu deveria pegar, um fiscal do tamanho de uma montanha me disse um nome e, ao chegar um outro, me ergue pelos braços e diz que aquele também iria, me jogando assim para dentro do mesmo. Nessa hora me bateu um sentimento de não ter poder de decisão sobre coisa alguma.
Com a ajuda do cobrador, desço ao lado de um córrego e vejo uma grande multidão caminhar a um lugar em comum. Assim surge um sorriso no canto dos meus lábios e a intuição de que estava perto. Caminhando vários metros e cada vez mais ver um número maior de pessoas, é possível notar de longe um enorme estádio e com o letreiro em vermelho dizendo: São Paulo Futebol Clube. Naquela hora já podia notar que o show não podia ser em um lugar melhor.
Depois de ser xingado por algumas meninas por atrapalhar suas fotos e de caminhar por toda a área externa do estádio para encontrar a portaria certa, consigo entrar. Pura emoção. Não sei como não havia ido lá antes. Achando um bom lugar para sentar na arquibancada, podia ver melhor a quantidade de pessoas à espera do espetáculo. E a cada minuto chegava mais centenas delas. Agora era só esperar.
Poucas horas depois e começam as bandas de abertura. O público na arquibancada, para comemorar o que sentia, fazem com sucesso a maior “ola” de que já participei na vida, dando toda a volta no estádio. Ao final de cada um todos comemoravam com muitos aplausos. Animados e ansiosos, é chegado o momento. As luzes são apagadas. O som vai aumentando pouco a pouco com a música instrumental Life in Technocolor. As pessoas vão ao delírio e, finalmente, o Coldplay entra em palco.
É esse o ápice de que disse no começo do texto. Nesse momento tudo se desligou. A hora agora é toda sua. Esquecer os problemas e pensamentos é algo instantâneo. Todos que já passaram por esse momento sabem do que estou dizendo.
Lembrando do show, sei que sempre irei me recordar não apenas do momento da banda tocando, mas sim de todo o trajeto ao chegar nele. Todas as atrapalhadas. Isso só prova que a viagem não é apenas o lugar de destino e, sim, todo o caminho que você percorre.
Esse show é apenas um exemplo que procuremos buscar mais sobre o que nos deixa felizes. Assim como a música da banda e o título desse texto, precisamos viver a vida. Deixamos às vezes que algum acontecimento, o qual não deveria importar tanto, tome conta de nossa vida. Se o trabalho ou qualquer outra coisa começar a nos fazer mal, devemos procurar nele algo que nos faça reativar o interesse. Ou, então, trocá-lo de vez. Devemos passar mais tempo com as pessoas que amamos e fazendo o que gostamos. Não podemos nos esquecer disso. Nunca.
Seja o escritor da sua vida. Não deixe que o escrevam por você. Pode-se perder histórias fantásticas pra contar.
Do menino, que mesmo depois de 5 anos, não esqueceu.
– Eric Ventura

Você também pode gostar:

Um comentário: