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Sobre o não se jogar por aí

sexta-feira, setembro 05, 2014 Unknown 2 Comentários



Se tem uma coisa que eu odeio no lugar em que trabalho é a janela. Na verdade eu a adoro, o que de fato eu realmente odeio é que ela me lembra que existe um mundo lá fora e que por algumas horas ele é inalcançável para mim. É uma janela enorme no alto de um prédio. Através dela, todos os dias, vejo duas das coisas que mais gosto de admirar no céu: aviões sobrevoando nossas cabeças e o pôr do sol, o que deixa minha frustração ainda maior.
Dia desses, enquanto trabalhava e observava a janela, me bateu um desespero em viajar. Queria largar tudo aquilo ali, o trabalho já não me apetece mais como fazia antes. Meus pés batiam incessantemente ao chão, a ansiedade estava tomando o controle do meu corpo e me estrangulava aos poucos. Só tinha uma coisa a fazer, e se você pensa que foi abandonar o trabalho e viajar, infelizmente você está errado. Fiz o que tenho feito com frequência nos últimos tempos: tomar um calmante. Em seguida me peguei pensando no que acabara de fazer. “Tem certeza que o verdadeiro remédio pra sua vontade de se jogar por aí é um tranquilizante?”, me questionei, já sabendo com clareza qual era a resposta.
Cada vez mais compreendo essas pessoas que saem com apenas um propósito na cabeça e passam a vida toda viajando. E acredito que você também compreenda. Enquanto não nos tranformamos em um desses, vamos seguindo nossas vidas em nossos escritórios, mas não deixando toda a nossa vida passar pelas nossas janelas. Tentemos arranjar formas de aproveitar o tempo que temos, nem que seja pouco. Eu, por exemplo, quero aproveitar o prazer das pequenas coisas. Uma corrida matinal. A sensação de voo ao decolar. Tomar um café com a vista de um pôr do sol. Ler à luz do luar. Dirigir sem destino com os amigos. Tomar banho no escuro.
Às vezes, um único momento de paz nos faz lembrar quem somos de verdade. Essa pessoa pode desaparecer de vez em quando, mas se nos esforçarmos, ela não irá embora. Se demorarmos pra fazê-lo, alguma hora, podemos não descobrir mais onde encontrá-la.
Do menino, que promete tentar tomar menos calmantes.
– Eric Ventura

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2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Me identifiquei.
    Trabalho de frente à uma janela enorme e vejo, todo dia, por do sol e aviões.
    Tenho a mesma sensação.
    Só não tomo calmantes.

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