inspiração,
Sobre o não se jogar por aí
Se tem uma coisa que eu odeio no lugar em que
trabalho é a janela. Na verdade eu a adoro, o que de fato eu realmente odeio é
que ela me lembra que existe um mundo lá fora e que por algumas horas ele é inalcançável
para mim. É uma janela enorme no alto de um prédio. Através dela, todos os
dias, vejo duas das coisas que mais gosto de admirar no céu: aviões sobrevoando
nossas cabeças e o pôr do sol, o que deixa minha frustração ainda maior.
Dia desses, enquanto trabalhava e observava a
janela, me bateu um desespero em viajar. Queria largar tudo aquilo ali, o
trabalho já não me apetece mais como fazia antes. Meus pés batiam
incessantemente ao chão, a ansiedade estava tomando o controle do meu corpo e
me estrangulava aos poucos. Só tinha uma coisa a fazer, e se você pensa que foi
abandonar o trabalho e viajar, infelizmente você está errado. Fiz o que tenho
feito com frequência nos últimos tempos: tomar um calmante. Em seguida me
peguei pensando no que acabara de fazer. “Tem certeza que o verdadeiro remédio
pra sua vontade de se jogar por aí é um tranquilizante?”, me questionei, já sabendo
com clareza qual era a resposta.
Cada vez mais compreendo essas pessoas que
saem com apenas um propósito na cabeça e passam a vida toda viajando. E
acredito que você também compreenda. Enquanto não nos tranformamos em um
desses, vamos seguindo nossas vidas em nossos escritórios, mas não deixando
toda a nossa vida passar pelas nossas janelas. Tentemos arranjar formas de
aproveitar o tempo que temos, nem que seja pouco. Eu, por exemplo, quero aproveitar
o prazer das pequenas coisas. Uma corrida matinal. A sensação de voo ao
decolar. Tomar um café com a vista de um pôr do sol. Ler à luz do luar. Dirigir
sem destino com os amigos. Tomar banho no escuro.
Às vezes, um único momento de paz nos faz
lembrar quem somos de verdade. Essa pessoa pode desaparecer de vez em quando,
mas se nos esforçarmos, ela não irá embora. Se demorarmos pra fazê-lo, alguma
hora, podemos não descobrir mais onde encontrá-la.
Do menino, que promete tentar tomar menos calmantes.
– Eric Ventura
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMe identifiquei.
ResponderExcluirTrabalho de frente à uma janela enorme e vejo, todo dia, por do sol e aviões.
Tenho a mesma sensação.
Só não tomo calmantes.